Famílias já foram retiradas por três vezes da área.Invasores passam fome e sede no local.
Após terem as casas demolidas no final da tarde da última quinta-feira
(2) as famílias que ocupam uma área de terra no Residencial Rosa Linda,
em Rio Branco,
já começaram a reconstruir suas moradias no local. Essa é a terceira
vez que homens da Polícia Militar e da Prefeitura tentam fazer com que
as pessoas saiam da região. O terreno faz parte de um loteamento
gerenciado por uma imobiliaria local, mas os donos não foram encontrados
para comentar o assunto.
O trabalho de reconstrução começou no final da noite de quinta e se
estendeu durante a madrugada de sexta-feira (3). No local cerca de 150
famílias tentam se estabelecer, mas por enquanto segundo uma das
representantes da comunidade, Sandra Ribeiro da Silva, de 25 anos,
apenas 50 já estão estabelecidas.
Sandra diz que apesar da pressão para que os moradores saiam de lá, o
poder público nunca apresentou um documento comprovando a posse da
terra. "A polícia e os fiscais da Prefeitura, alegam que é área verde,
que tem dono, mas nunca trazem papel de reintegração de posse. Só falam
que tem que tirar a gente de lá", salienta.
'Saí 3 da madrugada para cá'
Josué Pereira (26) passou a madrugada de quinta para sexta-feira
reconstruindo sua casa e ajudando outros a fazer o mesmo. Foi em uma
madrugada três meses atrás também, que ele ouviu falar do Rosalinda.
"Não tinha onde morar e quando ouvi falar desse lugar saí do Calafate às
3 da madrugada e vim a pé para cá. Não podem fazer isso com a gente,
depois que limpamos a área e construímos nossas casinhas", lamenta.
No local, as famílias que permanecem vivem da caridade e do apoio dos
que trabalham. "Se derem comida a gente come, se não derem a gente fica
com fome. Eu mesmo estou sem comer há dois dias", lamenta Pereira.
As crianças, que não são poucas, convivem no local com a higiene
precária. Os banheiros são improvisados com lona e banhos só quando as
pessoas andam cerca de um quilômetro até o Igarapé da Judia.
Aluguel Social
Entre as alternativas apresentadas pela Prefeitura está a transferência
das famílias para o aluguel social. Porém, algumas famílias denunciam
que estaria havendo atraso no pagamento desse aluguel.
"Colocam a gente no bolsa aluguel, mas atrasam o pagamento em dois, três
meses e aí o dono do apartamento põe a gente para fora e se a gente for
pagar acaba passando fome do mesmo jeito", conta a desempregada Luciana
Barros (25).
De acordo com o secretário municipal de Articulação Comunitária e
Social, Manoel Lima, a informação de atraso não é verdadeira. "Essa é
uma verba que já está destinada, não é tirada do Orçamento. No dia certo
a pessoa pode ir sacar o aluguel", explica.
Assistência Social
Lima conta que na manhã desta sexta-feira esteve reunido com uma
comissão de moradores e a decisão de retirar as famílias permanece. Ele
afirma que já apresentou para a comissão o documento de reintegração de
posse e explicou que a área é particular e por isso o município não pode
permitir a permanência das famílias no local.
"Existe um documento, registro cartorial com firma reconhecida e
registro tanto no Governo quanto na Prefeitura. É uma área de
preservação permanente é uma área que independente de ser do Governo,
Município e particular não pode haver construção lá", explica.
O secretário diz ainda que a assistência social dos governos municipal e
estadual estão a disposição das famílias, mas não poderá atendê-las
enquanto não saírem da área. "Todas as famílias serão atendidas, mas não
na área, pois, não podemos intervir em área particular", disse.
Enquanto isso, as famílias do Rosalinda continuam reconstruindo suas
casas. "Não fazemos isso por nós, mas por nossos filhos e o sonho que a
gente tem de ter um pedaço de chão", conclui a autônoma Maria de Fátima
Monteiro (51