Hacker de 19 anos mostrou como fez para fraudar eleições no Rio de Janeiro
O registro do caso é oficial e ocorreu durante as eleições Municipais em 2012, no Rio de Janeiro.
Acompanhado por um especialista em transmissão de dados, Reinaldo
Mendonça, e de um delegado de polícia, Alexandre Neto, um jovem hacker
de 19 anos, identificado apenas como Rangel por questões de segurança,
mostrou como — através de acesso ilegal e privilegiado à intranet da
Justiça Eleitoral no Rio de Janeiro, sob a responsabilidade técnica da
empresa Oi – interceptou os dados alimentadores do sistema de
totalização e, após o retardo do envio desses dados aos computadores da
Justiça Eleitoral, modificou resultados beneficiando candidatos em
detrimento de outros – sem nada ser oficialmente detectado.
Fácil, fácil, diz o Hacker
“A gente entra na rede da Justiça Eleitoral quando os resultados
estão sendo transmitidos para a totalização e depois que 50% dos dados
já foram transmitidos, atuamos. Modificamos resultados mesmo quando a
totalização está prestes a ser fechada”, explicou Rangel, ao detalhar em
linhas gerais como atuava para fraudar resultados.
Especialistas ficaram de boca aberta após demonstração
O depoimento do hacker – disposto a colaborar com as autoridades –
foi chocante até para os palestrantes convidados para o seminário, como
a Dra. Maria Aparecida Cortiz, advogada que há dez anos representa o
PDT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para assuntos relacionados à
urna eletrônica; o professor da Ciência da Computação da Universidade de
Brasília, Pedro Antônio Dourado de Rezende, que estuda as fragilidades
do voto eletrônico no Brasil, também há mais de dez anos; e o jornalista
Osvaldo Maneschy, coordenador e organizador do livro Burla Eletrônica,
escrito em 2002 ao término do primeiro seminário independente sobre o
sistema eletrônico de votação em uso no país desde 1996.
Sob proteção policial 24 horas por dia...
Rangel, que está vivendo sob proteção policial e já prestou
depoimento na Polícia Federal, declarou aos presentes que não atuava
sozinho: fazia parte de pequeno grupo que – através de acessos
privilegiados à rede de dados da Oi – alterava votações antes que elas
fossem oficialmente computadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Fraude em benefícios de políticos locais...
A fraude, acrescentou, era feita em benefício de políticos com base
eleitoral na Região dos Lagos – sendo um dos beneficiários diretos dela,
ele o citou explicitamente, o atual presidente da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado Paulo Melo
(PMDB). A deputada Clarissa Garotinho, que também fazia parte da mesa,
depois de dirigir algumas perguntas a Rangel - afirmou que se informará
mais sobre o assunto e não pretende deixar a denúncia de Rangel cair no
vazio.
Fernando Peregrino, coordenador do seminário onde foi apresentado como foi burlada a eleição, por sua vez, cobrou providências:
“Um crime grave foi cometido nas eleições municipais deste ano,
Rangel o está denunciando com todas as letras – mas infelizmente até
agora a Polícia Federal não tem dado a este caso a importância que ele
merece porque ele atinge a essência da própria democracia no Brasil, o
voto dos brasileiros” – argumentou Peregrino.