Rio Madeira invade BR-364
Tudo que você ouvir dos caminhoneiros
sobre a BR-364, no trecho entre Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO), não
duvide. A rodovia federal que liga o Acre ao resto do País deixou de
ser, nas últimas horas, uma via de tráfego de veículos para dividir
parte do seu trajeto com pequenas embarcações, que auxiliam pessoas que
tentam entrar ou sair nos dois estados. Até às 14 horas deste sábado
(22), apenas caminhões com gêneros alimentícios, gás e combustíveis eram
liberados para a passagem arriscada em cerca de 3,5 km de pista coberta
por água, logo após a balsa do Abunã, sentido Porto Velho.
A equipe de reportagem de ac24horas, formada
pelos jornalistas Roberto Vaz e Ray Melo, o cinegrafista Celiano Soares
e o produtor Jeferson Rodrigo, percorreu cerca de 300km de carro e de
barco para registrar a maior enchente do rio Madeira, nos últimos 100
anos, que poderá deixar o Acre isolado via terrestre.
A aflição de quem precisa da estrada é
visível. O alagamento que atingia apenas o trecho da estrada próximo ao
distrito de Jacy Paraná, já chegou em outros três pontos, um deles,
antes do embarque na balsa. Uma lamina d’água de até 80 centímetros em
alguns locais, cobre 3 mil metros da pista, no sentido Rio Branco.
O cenário ao longo da BR-364 é
desolador. Animais mortos boiam nas águas fétidas que tomam conta de
várias localidades. O perigo de doenças assusta os moradores que
peregrinam longas distâncias à procura de atendimento médico e de
abrigos improvisados em prédios públicos.
A PRF proibiu o tráfego de carros de
passeio e caminhonetes que saíram de Rio Branco com destino a municípios
de Rondônia. Os condutores recorreram a uma saída alternativa. Os
veículos foram embarcados nos baús e carrocerias de caminhões que
chegavam sem carga no porto do Abunã.
Os profissionais do volante
aproveitaram a cheia para fazer um extra. Eles cobram de R$ 100 a R$ 200
para transportar os veículos menores no trecho da BR-364 – após a
balsa, aonde o nível da água chegou a 80 centímetros, encobrindo
aproximadamente três quilômetros da rodovia federal.
A situação pode ser bem mais grave do
que é informado pelas autoridades. Mesmo com todas as dificuldades de
tráfego da BR, o governo do Acre não disponibiliza serviço de informação
aos condutores que trafegam na jurisdição acreana. A presença da PRF e
do DNIT também é tímida. A desinformação é total.
O rio Madeira chegou a 18,23 metros
acima do seu nível normal. Nos pequenos vilarejos e distritos ao longo
da rodovia, os carros deram lugar a pequenas embarcações que transportam
pessoas e motos. O inspetor da PRF de Rondônia, João Bosco afirma que a
estrada não oferece mais condições de tráfego.
A vegetação que ficava às margens da
estrada e era usada para orientar os motoristas nos postos inundados
está encoberta. O perigo anda de carona com quem se aventura a trafegar
na BR-364. A PRF de Rondônia informou que iria enviar uma equipe de
patrulheiros para fechar a rodovia até que haja a vazante do rio
Madeira.
REPORTAGEM ESPECIAL
ROBERTO VAZ
RAY MELO